A boa comunicação nos Fundos imobiliários
Muitos investidores sentem
alguma dificuldade para avaliar se a gestão de um fundo imobiliário é boa ou
ruim. Sempre recebo as mesmas perguntas de investidores novatos:
(1) Quais
as melhores gestoras?
(2) Como
avaliar uma gestão?
Essa pandemia está afetando os fundos imobiliários em
cheio. Mas também está abrindo uma oportunidade única para separarmos o joio do
trigo. É na dificuldade que a gente vê quem se destaca. Isso também serve para
as gestoras dos fundos imobiliários.
Eu já observava que algumas gestoras apresentam um
trabalho diferenciado, enquanto outras são quase desconhecidas. E a crise do
Covid-19 deixou isso ainda mais evidente.
Vou começar pelos bons exemplos que eu venho observando
na prática.
O fundo HGRE, gerido pela Credit Suisse, no relatório
gerencial de setembro de 2019, compartilhou com os cotistas a estratégia do
fundo, resumindo a estratégia da seguinte forma: "Um fundo de escritórios, com participações relevantes e exposição
preponderantemente em São Paulo."
Toda a estratégia está bem explicada nesse relatório de
setembro de 2019, nos mínimos detalhes. Achei uma excelente prática, que merece
elogios. A gestão se comunica aos cotistas explicando quais são os planos do
fundo.
Ou seja, o cotista fica sabendo onde o fundo está e para
onde ele vai.
Até para quem não é cotista. Se um investidor estiver
estudando o HGRE, para decidir se investe ou não, o investidor terá clareza
sobre a estratégia do fundo e poderá avaliar se está de acordo ou não.
Agora, eu te pergunto:
(1) Quantos
fundos fazem isso?
(2) Quantos
gestores esclarecem em detalhes a estratégia do fundo?
(3) Quantos
fundos deixam bem claro “onde estamos hoje” e “para onde vamos”?
E a Credit Suisse não para por aí.
Quando os fundos adquirem novos imóveis, eles divulgam um
Fato Relevante informando ao mercado os principais dados da transação. Ok, isso
é básico, todos fazem. Porém, a Credit Suisse vai além. Eles divulgam a “tese de investimento”.
Exemplo prático. No segundo semestre de 2019, o HGRE
adquiriu os prédios Chucri Zaidan e Totvs e, pouco tempo depois, divulgou um
documento com 34 páginas contendo:
(1) A
tese investimento – por que comprar esse prédio? Quais as vantagens? O que
esperamos com esse investimento? Tudo isso é respondido.
(2) Dados
da transação – quanto custou o prédio? Como é a forma de pagamento? A vista ou
parcelado? Quanto será o aluguel por mês? Qual o valor do aluguel por m2?
Qual o Cap Rate?
(3) Ficha
técnica do prédio – qual a área total do edifício? Tem quantos andares? Como é
o sistema de ar condicionado? Altura do pé direito? Tem algum adicional, como
sala de convenções, teatro, heliponto, o prédio tem gerador?
(4) Localização
– onde o prédio fica situado? A região é abastecida por equipamentos urbanos
como metro, shopping etc? Qual a vacância na região? Como é a concorrência de
prédios na região?
(5) Impactos
no portfólio do fundo – como o fundo ficará com esses novos prédios? Essas
aquisições estão de acordo com a estratégia do fundo?
É um trabalho de excelência. O investidor tem toda a
informação de que precisa para fazer sua análise. Principalmente para
investidores mais avançados ou os mais críticos, que podem avaliar a região, a
localização exata, se o preço/m2 está adequado, qual o padrão
construtivo do imóvel etc.
Desconheço outra gestora que adquire imóvel e divulga a
“tese de investimento” com tanta riqueza de detalhes.
E também divulga “tese de desinvestimento”! No final de
2019, o HGRE vendeu o edifício Delta Plaza. No relatório gerencial de dezembro
de 2019 o fundo apresenta a “tese de desinvestimento” explicando os motivos que
levaram o fundo a vender o prédio.
Veja bem: o fundo explica por que comprou e por que
vendeu um prédio. Para o investidor, esse é o melhor dos mundos.
Há exemplos de fundo imobiliário que vende participação
em imóvel, pouco tempo depois de ter comprado, e você simplesmente não sabe
qual foi o motivo... ora, se o fundo comprou esse imóvel há pouco tempo, por
que vender tão rápido? Será que isso traz um melhor resultado para os cotistas?
Será que isso traz mais taxa de gestão? Fica a dúvida. E o investidor fica sem
informação...
Em minha opinião, é um déficit de comunicação. O
investidor não sabe o racional da operação.
Isso não ocorre na Credit Suisse. Tudo é informado com
detalhes. Esse padrão de excelência na comunicação também ocorreu em outro
fundo da casa, o HGLG. Esse fundo recentemente vendeu alguns imóveis para o
fundo XPIN, e a Credit Suisse divulgou os motivos que levaram a venda dos
imóveis.
Sinceramente, era esse o padrão de comunicação que eu
esperava da indústria. Ao menos, fica o exemplo e quem sabe mais gestoras
adotem essa prática.
Vamos para outro exemplo, agora, mais específico da crise
do Covid-19. No meio de uma pandemia, mortes no mundo todo, lockdown da cadeia
produtiva global, meia dúzia de circuit breaker em março de 2020, um desespero
total. Cotistas perdidos.
No meio do caos, a RBR Asset, gestora do RBRR, divulga um
“Relatório de Risco (Efeito Corona)”, em 30 de março de 2020. É um relatório
excepcional, produzido especialmente para esclarecer os investidores sobre como
o fundo RBRR está atravessando a crise.
Relatório cheio de informações detalhadas sobre todos os
aspectos do fundo. Foi uma luz trazida no meio da escuridão imposta pela
pandemia. A RBR Asset deu um exemplo que, depois, até seria seguido por outras
gestoras (Kinea também seguiu nessa linha e divulgou relatório de risco com
muitos detalhes).
Em seguida, a RBR participou de lives nos principais
portais de comunicação sobre Fundos Imobiliários, sempre trazendo informações
sobre como os fundos da casa estavam atravessando a pandemia.
Quanto mais informação disponível, mais empoderado o
cotista fica para tomar suas decisões de investimento.
Agora, vamos para a outra ponta. Um exemplo que não
merecem elogios.
Cito o caso da Coin Valores com o FIIB, excelente fundo,
mas que parece pecar na comunicação. Nos últimos 12 meses o fundo vinha pagando
rendimentos na faixa de R$ 2,67, R$ 2,70, R$ 2,40 por cota.
Com a pandemia, em 30 de abril o fundo comunicou um
rendimento bem fora do habitual, de R$ 1,90. Mas infelizmente não esclareceu o
porquê da redução do rendimento.
(1) Algum
inquilino não pagou o aluguel em dia?
(2) Houve
atrasos no pagamento?
(3) O
que aconteceu afinal?
O cotista não sabe. O mercado não sabe. Penso ser uma deficiência
na comunicação.
Vejamos o exemplo do GGRC: no meio da pandemia a gestão
do GGRC vem comunicando prontamente os atrasos no pagamento. Recebi o
comunicado por e-mail, vi a notícia no instagram oficial do fundo e no perfil
do fundo no twitter!
A notícia é boa? Definitivamente não. Nenhum cotista
gosta de saber que o inquilino não pagou o aluguel. Porém, o GGRC é
transparente com o mercado e mantém o cotista informado. O investidor sabe o
que se passa com o fundo e já tem uma previsibilidade dos seus rendimentos.
Ponto positivo na comunicação.
Seja o fato bom ou ruim, o fundo se comunica com os
investidores e isso é excelente. Ninguém fica perdido. Todo mundo sabe o que
está acontecendo e o que esperar.
E no caso do FIIB? Não faço a mínima ideia. Reduziram o
rendimento e não sabemos o motivo. Em termos de comunicação e transparência,
deixa a desejar quando comparado a outros fundos.
Comentários
Postar um comentário
Pretende comentar algo? Obrigado por participar do debate. Exponha seu ponto de vista ou sua opinião com respeito a todos. O debate é aberto e bem vindo, mas não toleramos xingamentos ou ofensas. Vamos manter um bom nível. Obrigado.